Roma

In Rome... be Roman, as they usually say about the eternal city, one the most beautiful cities in the world. Rome is surrounded by undeniable power, and the semi-autobiographical film ROMA by Federico Fellini captures exactly that.

The director’s personal experiences in this city, as well as the changes it went through over time, come hand in hand in this film. Released in 1972, “his” city of Rome is no longer on the background to become the main character in the sixth film by one of the greatest masters of the seventh art.

As Fellini once said, this is “the portrait of a city”.

The city of Rome is undoubtedly one of the most beautiful in the world. From the food to the monuments, Fellini fell in love with both, but he didn’t stop there...

ROMA is a journey to the good and bad habits of this city and of Italy, whose moral principles have not changed much until today, and are still outdated. Its people still have trouble acknowledging their flaws, their so-called “impureness”: the presence of fascism, the objectification of women, and the most conservative and traditional mindset influenced by the strong presence of the Catholic religion in the city.

In ROMA the director mirrors these aspects entrenched in the Italian culture over different decades, presenting the city’s contrasts: from brothels to the most high-fashion events sponsored by the church, from a period dominated by fascism under the rule of Mussolini to the free-love movement of the 70’s.

It is through a fragmented narrative, with disconnected scenes and in a documentary style, that Fellini demystifies Rome, by revealing its most authentic side, even if that would imply showing its fragility, its dirtiest side, or rather, the unfiltered side of the Roman city. Between 1936, when he arrived in the city, and 1970, we walk through Rome’s different historical contexts.

Before watching ROMA, I only knew the historical side of the city, as if it was a still frame of history, shaped by the Roman Empire and by the Church, and therefore, I had always considered it more conventional.

Some events that Fellini fortunately shows in the film surprise us... such as an empowered and free youth protesting, half-naked, in majestic monuments. Here, for instance, we can see a time in history when Rome was almost as freeing as Los Angeles in the middle of the 70’s. And who would imagine?

Decade over decade, comparing the old to the new Rome, Fellini fulfils not only the role of director and narrator of this film, but he also stages his own stay in the city through the interpretation of young actor Peter Gonzalez, in a way that makes us feel that he is the protagonist.

However, when it comes to Fellini, one protagonist is not enough, and he leaves us pondering that the film, with the temporal changes it portrays, has therefore new protagonists as well.

In ROMA, several people, from illusionists to prostitutes, earn our attention and are highlighted by the Italian director.

We can get familiar with the portrayal of this marvellous city through Hollywood films or tourist postcards found on social media.

It’s following this change of protagonists that we also understand when he changes the historical context. With the camera moving constantly and never focusing on a single character for more than 4 minutes, sometimes not even that, Fellini creates “his” very own world: amongst others, I have to highlight my favourites, such as watching families getting together and sharing some nice Italian pasta, or groups watching a film, and in both situations there is a cacophony of sounds, which reminded me of scenes from the renowned Cinema Paradiso by his compatriot Giuseppe Tornatore.

Fellini highlights not only the city’s spaces but also those who live in it.

This is to say that the world Fellini shows in Rome was both everything I expected and everything I didn’t expect from the city, both the bad and the good. It was almost like a loss of my innocence regarding my idea of the city of Rome. And maybe it’s considered eternal because it’s destined to change again in the future, hopefully for the better.

Em Roma... sê romano, é o que se costuma dizer sobre a cidade eterna, uma das mais bonitas do mundo. Roma tem um poder à sua volta que é inegável, e o filme semiautobiográfico ROMA de Federico Fellini confere exatamente isso.

As vivências que o realizador fez nesta cidade como também as mudanças que ela sofreu ao longo do tempo entram neste filme de mãos dadas. Lançado em 1972, a “sua” cidade de Roma deixa de ser pano de fundo para passar a ser a personagem principal no sexto filme de um dos maiores mestres da sétima arte.

Como Fellini uma vez disse, este “é o retrato de uma cidade”.

A cidade de Roma é uma das mais bonitas do mundo, sem sombra de dúvida. Desde a gastronomia até aos monumentos, Fellini apaixonou-se por ambos, mas não se ficou por aí...

ROMA é uma viagem aos bons e maus costumes desta cidade e de Itália, que até hoje pouco mudou no que diz respeito aos seus princípios morais, ainda inadequados. O povo ainda tem dificuldade em assumir os seus defeitos, as suas ditas “impurezas”: a presença do fascismo, a objectificação da mulher e a linha de pensamento mais conservadora e tradicional devido à forte presença da religião católica na cidade.

Em ROMA, o realizador espelha estes aspetos mais enraizados da cultura italiana em diferentes décadas, imprimindo os contrastes da cidade: desde a bordéis aos mais espalhafatosos desfiles de alta-costura patrocinados pela igreja, a um período dominado pelo fascismo sob comando de Mussolini até ao movimento free-love dos anos 70.

É através de uma narrativa desconexa, com planos soltos e num estilo documental que Fellini a desmitifica, ao revelar o seu lado mais autêntico, mesmo que isso implique mostrar as suas fragilidades, o seu lado mais sujo, ou melhor, mais cru da cidade romana. Entre 1936, o ano em que chegou à cidade, até 1970, aqui vemos os contextos históricos que a acompanharam.

Antes de visualizar ROMA, sempre vi a cidade repleta de história, como se estivesse refugiada apenas aos seus antepassados, marcada pelo Império Romano e pela Igreja e, por isso, sempre a achei mais convencional.

Alguns acontecimentos que Fellini felizmente mostra no filme surpreendem-nos … como uma juventude empoderada e livre, andando semi-nua em majestosos monumentos a se manifestar Aqui, por exemplo, vemos um momento na história em que Roma é quase tão libertadora quanto Los Angeles, em plena década de 70. E quem diria?

De década em década, e a comparar a antiga com a nova Roma, Fellini não só ganha o papel de realizador e narrador deste filme como encena a sua própria passagem pela cidade através da interpretação do jovem ator Peter Gonzalez, que o sentimos, de certa forma, como protagonista.

No entanto, no que toca a Fellini, um protagonista não é suficiente e nos deixa a ponderar que o filme tem, com as mudanças temporais que retrata, assim também novos protagonistas.

Em ROMA, várias pessoas, desde ilusionistas a prostitutas, ganham a nossa atenção e o destaque por parte do cineasta italiano.

Habituada ao retrato desta maravilhosa cidade através dos filmes vindos de Hollywood ou postais turísticos que vemos nas redes sociais:

É consoante essa mudança de protagonistas que percebemos também quando ele muda de contexto histórico. Com a câmara sempre a mover-se e nunca a centrar-se numa só personagem por mais de 4 minutos, ou se tanto, Fellini cria um mundo “seu” muito próprio: entre vários, tenho de destacar os meus favoritos, como ver famílias reunidas a partilhar uma bela massa italiana ou grupos a assistir a um filme, ambos numa alta cacofonia de sons, que me fez lembrar cenas do conceituado Cinema Paradiso, do compatriota Giuseppe Tornatore.

Fellini oferece o protagonismo não apenas aos espaços da cidade, mas aos que nela vivem.

Isto para dizer que o mundo que Fellini montra em Roma foi tudo aquilo que eu esperava ou não da cidade, pelo mau e pelo bom, foi quase como uma perda de inocência minha perante a uma ideia da cidade de Roma. E talvez seja considerada eterna porque esteja destinada a dar espaço a mais transições, esperemos que, no futuro, para melhor.